sábado, 5 de dezembro de 2015

No Caminho De Andrés Eloy Blanco * Antonio Cabral Filho - RJ


No Caminho de Andrés Eloy Blanco


Andrés, ainda é tempo,
Podemos jantar mitos
Colhidos no Orinoco
Para alegria dos deuses.
Vou pegar alguns caniços
E preparar iscas,
Fincaremos as varas
Bem à beira d’água
E nos sentaremos distantes
Para que nossos peixes
Não se sintam caças
De certos predadores.
Assim, quando estivermos
saboreando-os, não se sentirão
devorados por algozes.
Vamos. Não se preocupe
Com a sua presença...
Tanto nossos mitos das águas
Como nosso rio mitológico
Nos acolherão festivos.
*

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Meus Clássicos / Soneto Rubro E Outros Versos * Antonio Cabral Filho - Rj

Soneto Rubro 
E Outros Versos
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Meus Clássicos


O telhado tocava Chopin,
Tentando ninar meu tédio,
Mas na vitrola, Wagner
Soltava todas as Valquírias
À caça do meu sono Don Juan
Em noite de Zorro no México.

 ***

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Rumo Ao Fim Da Picada / Soneto Rubro * Antonio Cabral Filho - Rj

SONETO RUBRO
e outros versos
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Rumo ao Fim da Picada

Foi numa quarta-feira
De lua cheia
E nos encontramos
Na Praça Cruz Vermelha,
Como combinamos.
Mas Cupido esgrimava o espaço
Atiçando o caldeirão hormonal
E só lembro que perguntei-lhe
Se topava ir comigo
Até ao fim da picada...
- Picada, é comigo mesma!
Argüiu incisiva

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terça-feira, 7 de abril de 2015

Arqueologia Do Fogo / Soneto Rubro * Antonio Cabral Filho - Rj

SONETO RUBRO
e outros versos
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Arqueologia do Fogo

No meio do caldeirão
Ninguém sente o calor
Das palavras...

Âmago do magma sintático

Mas é sempre tarde
Quando se dão conta
Do seu estado de cinzas.

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domingo, 5 de abril de 2015

POLÍTICA HABITACIONAL / SONETO RUBRO * Antonio Cabral Filho - Rj

SONETO RUBRO
e outros versos
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Política Habitacional

Qualquer dia desses
Sem a minha casa
Nem a tua vida
Vou ao “Balança”
Dar chilique
Aos gritos “chega
De balança mas não cai!”.
Hoje, tudo vai a pique.

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sábado, 4 de abril de 2015

PASSEIO PATAXÓ / Soneto Rubro * Antonio Cabral Filho - Rj

SONETO RUBRO
e outros versos
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Passeio Pataxó

Mas, por falar em viagens,
Há os que preferem Londres,
E eu torço para que eles
Não só visitem Londres,
Mas que se mudem para lá,
Porque eu, eu, prefiro
Perscrutar o tempo
No domingo de manhã
Pensando nas Serras do Camorim,
No Açude do Camorim,
No Pico da Pedra Branca,
No Morro Dois Irmãos,
No Rio Grande, descendo
Do Pico do Pau da Fome,
Enquanto preparo sandubas,
Que serão devorados
À beira d’água
Bem na frente dos lambaris
Com os quais dividi-los-ei...
Mas jamais porei meus pés nativos
N’alguma urbis européia
Pois não tenho meu umbigo
Soterrado em além-mar.

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sexta-feira, 3 de abril de 2015

TRANSITÓRIO / Soneto Rubro E Outros Versos * Antonio Cabral Filho - Rj

SONETO RUBRO
e outros versos
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Transitório

Linda menina
Padrão topmodel
Decora o calçadão
De pedras portuguesas
Com seu andar de garça
E ao cruzar com o peão de obra
Ainda um tenro operário
Que realiza o palco
Do seu desfile
Vira  o rosto
Para o lado oposto
Quiçá pra não tingir
Suas retinas de realidade
E segue sua marcha solitária
Mas talvez ela nem saiba
Que sua estirpe representa
O passado sórdido
Da sociedade racista
Tantas vezes batido
No campo de batalha.

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quinta-feira, 2 de abril de 2015

MARULANDA DO VERSO / SONETO RUBRO E OUTROS VERSOS * Antonio Cabral Filho - Rj

SONETO RUBRO E OUTROS VERSOS
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Marulanda do Verso

Eu não sabia,
Mas Drummond provou que sim:
O poeta anda armado,
Leva em cada uma das mãos
Um poema engatilhado
E desfila serelepe
Qual vedete do Soleil
E por mais que eu grite:”
Puliça, não vai detê-lo?”
Eu acabo a ver navios.

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quarta-feira, 1 de abril de 2015

PIZARIA BRASIL / SONETO RUBRO E OUTROS VERSOS * Antonio Cabral Filho - Rj

SONETO RUBRO E OUTROS VERSOS
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Pizzaria Brasil

Marechal Castelo Branco,
Serviçal do imperialismo,
Jamais conseguiu ser franco
Pregando o nacionalismo.

Foi pego no fogo amigo
Do General Costa e Silva,
Que sem ter ninguém consigo
Se f...deu de verde e oliva.

Mas como tudo que excede-se
Pintou logo a solução;
Puxaram à frente o Médice
Aumentando a repressão.

Quem crê, tem santo a que rogue,
Como fez o judeu Weizel,
Que após a morte do Herzog
Interrogou: Qual é Geizel?

Este, sem engano ledo,
Apelou para os profetas
E chamou o Figueiredo:
Segura aí as diretas!

Depois, todo mundo sabe,
Sai o quepe, entra a gravata.
Mas antes que o mundo acabe,
Pizzarolo é que se mata.
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terça-feira, 31 de março de 2015

SONETO RUBRO E OUTROS VERSOS * Antonio Cabral Filho - Rj

SONETO RUBRO E OUTROS VERSOS
*
                                        Soneto Rubro

Não discuto o racismo
Do soneto, branco;
Antes, quero saber
Onde se esconde
A estética dos alijados.

Com ela quero fazer
Muito verso, pé quebrado,
Todos bem coroados
de cocares Guaranis
para que sejam sinais
durante todo o caminho
e ajudem meu povo
a encontrar Pindorama,

e livrar-se de uma vez
da estética opressora
que hostiliza nossa arte
com a pecha de primitiva,
ingênua, popular,

só para submetê-la
à sua arte vazia,
sem referência real
e por que ela não se encaixa
em suas estéticas acadêmicas.

E, não adianta xingar o meu verso
De estética mal-humorada,
Que enquanto houver exclusão
Contra a estética natural,
Eu ignorarei a estética
Do soneto, branco.

 *